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20.8.10

As nuvens de Vik Muniz




Escolhi a série “Quadros de Nuvens”, de 2001, porque difere-se da linguagem normalmente utilizada pelo artista. É um encontro da fotografia com a intervenção urbana e, ao mesmo tempo, aproxima-se conceitualmente da land art. É seu primeiro trabalho de arte pública. A obra consiste em fotografias (registros) de ambientes urbanos onde são inseridas no céu imagens de nuvens feitas artificialmente pela fumaça expelida por um avião contratado pelo artista.

O céu como suporte:

“No céu, onde as pessoas esperam ver nuvens, elas continuariam a ver uma nuvem, só que na forma de um desenho.” Vik Muniz

O artista retira o objeto de seu meio natural, modifica-o e o repõe novamente. A nuvem perde a sua naturalidade enquanto objeto pertencente ao seu habitat (céu) a partir do momento em que é fabricada. Porém, ao mesmo tempo, a nuvem sempre pertencerá ao céu, não causando estranhamento ao espectador mesmo que seu formato não seja natural. É como se ela estivesse sempre ali. Há uma troca, ou confusão entre o que é real ou parte da imaginação.

(...) uma obra contemporânea, ao requisitar a espacialidade do mundo em comum para individualizá-la, não possui autonomia para se desembaraçar totalmente dele (...) Uma obra contemporânea não transforma o mundo em arte, mas ao contrário solicita o espaço do mundo em comum para nele se instaurar como arte” Alberto Tassirari

Aquele objeto que por sua forma, somente poderia pertencer aos desenhos animados, ou ao universo infantil ( universos imateriais) pelo seu contorno vem à tona na realidade. O céu deixa de ser o limite para transforma-se em suporte.


Subvertendo os materiais tradicionais do desenho, o artista utiliza um avião como lápis e o céu como suporte. O trabalho impressiona por ser real; não é feito em um programa de computador ou com artimanhas durante a revelação – o que se vê é o que é: uma nuvem desenhada no céu.

Intervenção urbana?
Apesar o artista somente considerar os registros como obra, pode-se discorrer sobre o momento em que a nuvem é feita no céu como um evento. Enquanto o artista busca o melhor ângulo para eternizar a obra, há milhões de espectadores em vários pontos da cidade observando e absorvendo o momento, fato que não pode ser dissociado da obra. Porém, o fato de o artista atuar no ambiente urbano para em seguida trazer a obra para dentro da instituição traz um novo questionamento acerca do conceito de intervenção urbana a fim de discutir o limiar entre o marginal e a instituição.

“Em vez disso, impõe-se um outro tipo de intervenção: superposição, em escalas diferentes, de diversos planos, de modo a misturar todas as referências fixas, anulando as marcas tradicionais da cidade. Predileção por figuras de limite, entre o material e o virtual, a arquitetura e a pintura, o urbanismo e o cinema. Interferências simultâneas nas duas áreas implicam a justaposição delas, uma colagem que opera por contiguidade.” Nelson Brissac

Sobre Vik Muniz: www.vikmuniz.net/

3 comentários:

  1. A fumaça é o que? Vi que o céu é o suporte,mas gostaria de saber da fumaça

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  2. Uma série de trabalhos foi feita a partir de fumaça de um avião. Ela se chamou imagens das nuvens (por isso) .........

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